periferia

sobre segurança pública [parte dois]

maykelnazare
2 min readAug 3, 2017

é o segundo texto sobre teologia e segurança pública que eu escrevo e não é nada planejado.
na verdade esse texto é um pensar alto sobre as nossas realidades cotidianas.

estava preparando uma aula quando embarquei numa leitura sobre violência. me lembrei do texto bíblico de Mateus 25, que nós conhecemos aproximadamente como “O Julgamento das Nações”. o texto diz:

“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. […](NVI, meus grifos)

fome, sede, estranheza, nudez, enfermidade e prisão são características que estão presentes, com todas as suas faces, nas nossas periferias. o texto de Mateus é uma descrição completa do estereótipo de gente que pra nossa sociedade sequer tem rosto ou voz — ou sequer deveria ter.

estigmatizadas, nossas periferias não são lugares alcançados pelo “projeto de segurança pública” ou pelos olhares “caridosos” do Estado — senão pelo controle que é imposto a essa gente, principalmente por meio da violência e da violação dos seus direitos. chamamos esse fenômeno de criminalização da pobreza.

a criminalização da pobreza é esse projeto que invisibiliza toda uma parcela populacional com o discurso de que assim, tendo essas gentes eliminadas, a sociedade encontrará sua harmonia (a tal da sensação de segurança, por exemplo). é muita coincidência esse “povo de Mateus” estar reunido em lugares específicos das nossas cidades? ou é algo pensado pelo Estado-sociedade, eu-você?

fechando nossos olhos para as nossas periferias, estamos recusando o nosso chamado para esse Reino.

porque as pessoas tem fome, sede, são excluídas, desnudas, doentes e presas e nós lavamos nossas mãos.

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(sei que a ‘enfermidade’ não é característica exclusiva de nossas periferias — ela alcança a todos. mas a vulnerabilidade sanitária e os problemas de saúde pública na periferia são inomináveis)

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