de jó a jó, de pó a pó

sobre ciclos e inquietações

maykelnazare
2 min readMar 24, 2017

o livro de Jó é uma grande icógnita. a história é maravilhosa, mas ninguém quer estar lá.

Jó é um afronte a nossa consciência e à nossa teologia.

Jó é o primeiro dos livros conhecidos como “poéticos” na Bíblia — e esse fato deveria ser levado em consideração. antes de seguir leia o primeiro e o último capítulo do livro poético de Jó.

no primeiro capítulo Deus defende Jó dizendo que ele era irrepreensível e íntegro, homem temente que evita o mal¹. e o texto continua numa conversação, no mínimo esquisita, entre Deus e Satanás. Deus praticamente ostenta Jó diante de Satanás, que pede licença para chegar um pouquinho mais perto de Jó.

a história de Jó é muito intensa. no terceiro capítulo já está amaldiçoando seu nascimento e assim a história segue.

ao final de muita (muita!) dor e sofrimento, além de uma terrível e temível discussão com o próprio Deus, Jó diz que não conhecia o Senhor além de seus ouvidos².

seria possível Deus defender Jó sem que ele O conhecesse além do ouvir?

qual a distância do primeiro Jó e do último Jó?

a história de Jó me remete a um ciclo.

a Bíblia conta que a revelação de Deus na história é progressiva e não seria diferente com Jó. ele era irrepreensível e íntegro, homem temente que evita o mal — fruto de quem caminha com Deus. mas após passar por essa destruidora tempestade ele se vê diante de uma “nova face” de Deus e passa a caminhar com essa “nova revelação”.

não sei com você, mas isso acontece comigo de vez em quando. estamos ainda juntando os cacos e, de repente, tudo se espalha. aí retomamos nossa caminhada até percebermos que Deus está cuidando de nós desde o início, porque Ele nos conhece (e até “fala sobre nós”).

talvez antes nossa visão sobre Ele fosse inegociável, mas agora passa por uma mudança. lendo a história aprendo que não há um “novo Deus”, mas há um “novo Jó” — que entende as coisas de agora um pouquinho diferentes de como entendia antes.

e eu tenho a mesma sensação que Jó: “meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.” e assim como ele eu só posso me arrepender. e aqui vale lembrar que arrependimento é metanóia, uma expansão da consciência. consciência sobre o mundo, sobre mim e sobre Deus. também é assim que Ele se revela.


¹ Jó 1.8. também no 2.3.
² Jó 42.5

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